Van Gogh
A cor que lá está, imatura aos olhos da
carne, não alimenta o coração de quem a
vê. Então, espera a cor na lentidão das noites sem lua, amanhecer, correr pela tela do pintor e ser da imagem nascida sua
alma errante e nua.
Na deriva, como um
barco, ficam as palavras tortas que enlutam os verdadeiros sentimentos; não
podem felizmente verter aos mesmos desígnios
a estas outras transfiguradas em cores, em tons soltos e desgarrados de
brilho, marca e arte de um tempo.
Na
tela, a primeira pincelada tristemente espera a última, mas sua espera por
singela ou indiscreta, esconde o veio formoso que a supera, e a supera em
muito.
A expressão na tela ascende a vida para onde a vida não tem o fim que o começo enseja ou encerra, é manifestação pura de um dimensão que não sabemos no hoje, perdemos no ontem e criaremos tontos no amanhã, desesperados por algo mais que contente nossa "ex-existência".
Carlos França